22 de abril, descobrimento do Brasil e início das semi-finais do Campeonato. Nos últimos quarenta dias, o Náutico havia feito três gols pelo Campeonato Pernambucano. Nos últimos trinta dias o Náutico havia vencido apenas um jogo no campeonato. Neste mesmo campeonato, iniciado em janeiro, o Náutico, time que vai disputar a Série A do Campeonato Brasileiro, não venceu nenhum time que esteja acima da Série D, isto é, nenhuma vitória contra times de Série C ou A. Quatro clássicos foram disputados e nenhum vencido. Se considerar o Salgueiro, este ano, também como clássico, então, foram seis clássicos, quatro derrotas e dois empates.
Diante de tudo isso, dava para sonhar com alguma coisa na semi-final do campeonato? Sendo racional, não! Mas torcedor de verdade pode ser tudo, menos racional. E por isso mesmo nós estavamos lá. Bar do Náutico mais uma vez cheio. Era bonito de ver. Amigos, esposas, filhos, todo mundo no bar reunido para torcer, mesmo que o time não desse tantas esperanças. Mas só a presença da galera já parecia mudar o clima, e, de repente, a desconfiança deu lugar a esperança.
Começou o jogo. O líder da primeira fase jogava atrás e o timbuzinho, jogando em casa, era que buscava o jogo.
- O time aprendeu a jogar bola de uma hora pra outra foi?
- Não é possível que Gallo tenha feito tanta diferença.
Uma chance perdida. Outra. E mais outra.
- Está faltando um cara para botar essa bola para dentro.
- Calma que esse gol vai sair.
- Nãããoooo! Deixou Jael sozinho!
- Sai Gideão! Sai Gideão!
- Gideãããããããoooo!
- Goleiro arretado!
- Jael tocou certinho, no canto e rasteiro e o goleiro voou certo.
- Vamos ganhar essa p...a!
- É só marcar direi,.... Putz!
- Gol da coisa.
- Que merda. Como deixa Marcelinho receber na cara do goleiro?
Era metade do primeiro tempo e a velha máxima do futebol: quem não faz leva. E agora? Tinha que virar o jogo, pois nem o empate interessava. Veio logo em mente a campanha dos últimos jogos. Daria? A história começou a dizer que sim.
- É falta. Tem que cruzar essa bola direito.
- É Souza.
- É goooollll!
- Goooolll!
- Gooolllllll!
Era Ronaldo Alves empatando de cabeça. Tudo igual. Mas não deu tempo nem de comemorar. Um minuto depois.... penalte. E lá ia o artilheiro do campeonato para a cobrança. E agora?
- Manda o gandula esperar a bola lá no Country.
- Essa vai longe. Vai longe!
- AêEêÊêÊê!
- Gideãããããooooo!
- Goleiro da gota serena!
Gideão defendia o penalte com pé. O bar explode novamente. O Náutico escapava. Acabara de empatar e o adversário perdia um penalte. Era ter os nervos no lugar. Chegava o último minuto do primeiro tempo. Bolaça de Ramón para Tiuí e falta na meia-lua. Souza na cobrança!
- É agora. Vou já preparar a musiquinha!
- Vai Souza!
- Goooolllll!
- Não!
- Não?
- Bateu na trave e rolou em cima da linha.
- Goleiro cagado! A bola ainda passou atrás dele.
- Se ele se mexe, a bola batia nele e entrava.
Fim do primeiro tempo. Pausa para mais uma cerveja. Para mais outra cerveja... Está bom, para muitas cervejas mesmo. As crianças brincavam, as esposas conversavam e os pais... os país vocês já sabem. O Náutico jovaga um futebol que não víamos desde o começo do ano. Parecia que era dia.
Começou o segundo tempo da mesma forma como terminou o primeiro. O adversário buscava somente o contra-ataque e timbu em cima. Em um desses contra-ataques, o lance que mudou o jogo. Elicarlos derruba o adversário e mata contra-ataque no meio de campo. O juíz dá a falta e mostra amarelo, o segundo amarelo. Elicarlos expulso.
- Que juíz ladrão! O primeiro amarelo ele deu no lance do primeiro tempo em que foi penalte e ele deu simulação.
- Roubo descarado.
- Agora complicou. Tem 35 minutos de jogo ainda.
Com um a menos, o timbu não parou de atacar e criou duas chances seguidas. Uma delas defendida no susto pelo goleiro. Mas a pressão só durou 10 minutos. Com um menos e correndo muito em busca do ataque, o time começou a cansar e o adversário a ter mais posse de bola. Aos poucos se via o adversário saindo da defesa, tocando a bola e chegando ao ataque. O Náutico, aos 20 minutos, parecia pregado, só dando chutão e afrouxando a marcação.
- Caramba! O time pregou!
- Jogar com um a menos, tendo que vencer é dose.
- Olha para aí que espaço.
- Vai deixar chutar?
- Tira essa bola!
Perto dos trinta minutos, os comentários já era de que o empate estava de bom tamanho.
- Desse jeito vai acabar tomando o gol.
- Tira essa bola!
- Que defesaça de Gideão.
- Cara, tem que voltar a atacar.
- Não dá. O time já está morto.
- Penalte!
- Foi não.
- Penalte claro.
Sem pernas para correr e forças para atacar, o time cometeu mais um penalte. Aí querer que Gideão pegasse de novo era sonhar demais. Mas ele quase pegou. Marcelinho bateu forte, Gideão tocou nela, que bateu caprichosamente na trave e entrou.
Pronto. Era 2x1, no dia em que o time voltou a jogar bola, a expulsão e o mal preparo físico falaram mais alto. Daí para frente, o tempo foi passando e nada de mais aconteceu.
Fim de jogo. Clima de decepção. Sim, o sentimento era de que dava para ter sido melhor. Não esperávamos muito antes, mas, durante a partida, percebeu-se que o time lutou, foi guerreiro e teve muita chance de vencer, principalmente no primeiro tempo..
- E agora? 2x0 na ilha?
- Dá não.
- Não ganhou em casa, vai ganhar lá, e de 2x0?
- Não dá. Perdemos, mas nem por isso vamos ficar em casa.
- É mesmo. Vai ter cerveja aqui domingo?
- Vai.
- Então estaremos aqui. Não somos ratos, somos timbus!
- É isso aÊÊêÊÊêÊÊ!
- Eneee.....
- ...A-U-T-I-C-O!
- N-A-U-T-I-C-O!- N-Á-U-T-I-C-O!
- NÁUTICO! NÁUTICO! NÁUTICO!
Isso que é uma torcida.
Belo texto. O Náutico tem que fazer por onde merecer essa torcida!
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